Tenho ouvido muito
ultimamente a expressão "risco de morte".
Confesso que não soa bem aos meus ouvidos a substituição da antiga expressão
"risco de vida". Sei, perfeitamente,
que a língua é dinâmica e está sempre em
constante renovação e evolução; que novos vocábulos vão surgindo, antigos
desaparecem, mas não é este o caso.
Aqui se trata de, "arbitrariamente", sem uma análise
linguística mais profunda, determinar que
o uso da expressão "risco de
vida" está gramaticalmente incorreto de acordo com a norma culta padrão da língua.
NUNCA, em nenhum momento, questionei o uso da expressão RISCO DE VIDA, por simplesmente
compreender que se trata de um risco
"para a vida", ou a vida "está em risco". E, também, quando
nos remetemos àquilo que está implícito, ou nas entrelinhas do texto, fica "nítida” a supressão dos elementos "perder
a": risco de
(perder a) vida.
E, para aqueles que não se
contentam com o enfoque da interpretação, dado acima, e gostariam de uma explicação bem GRAMATICAL,
e dentro do padrão formal e culto da Língua Portuguesa, após uma análise bem
detalhada da referida expressão, cheguei as minhas conclusões.
Descrevo abaixo o
caminho do meu raciocínio e convido a todos que tenham algo a dizer ou a
acrescentar , que se posicionem de
alguma forma a contribuir para o esclarecimento dos motivos que levam a esse “modismo” do “risco
de morte”.
1º) RISCO = Algo em que o resultado é incerto.
Quando se faz alguma coisa com um fim esperado, sabendo que há a possibilidade de aquele fim não ser atingido.
- Sinônimos: incerteza,
aventura, acaso, cartada, façanha, lance, perigo;
(dicionário informal online)
2º) Substituindo a palavra RISCO pelo
sinônimo “incerteza”, teremos:
·
O risco
de vida = A incerteza da vida (é incerto
se algo irá continuar vivendo ou não).
3º) Vamos fazer a análise sintática das
duas expressões (risco de vida e risco de morte) dentro de orações, para perceber as relações entre os termos
das mesmas, pelas normas de construção
dessas expressões, o que elas querem realmente dizer. Analisaremos somente a
parte do sujeito.
a) O risco de vida
é grande naquele lugar abandonado.
·
Sujeito
simples – o risco de vida
·
Núcleo
do sujeito – risco (“risco”
de quê? – substantivo abstrato e de
sentido incompleto; neste caso, portanto, pede complemento)
·
Complemento
Nominal – de vida (o complemento nominal é diferente do adjunto adnominal. Ele é passivo. No caso, podemos dizer que “a vida corre o risco de acabar”- aqui é um “risco para a vida”...a vida recebe a ação do risco.
b) O risco de
morte é grande naquele lugar abandonado.
·
Sujeito simples – o risco de morte
·
Núcleo do sujeito – risco (“risco” de quê? –
substantivo abstrato. Note que aqui estou me referindo ao ‘tipo” de risco: o
risco de morrer. A ideia é de limitação
do campo dos riscos... A
expressão “de morte”, não pode ser considerada aqui, complemento nominal, pois
o sentido da frase ficaria assim: “a
morte corre o risco de acabar.”
·
Adjunto adnominal do sujeito – de morte
(o adjunto adnominal é aquele que anda junto, acompanha, determina uma
categoria, uma classe).
Concluo então, que ambas estão
dentro dos padrões da norma culta, porém devem ser entendidas de forma
diferente.
O que não pode acontecer é que, de
repente, um grupo de pessoas resolve criticar uma forma de expressão, utilizada
e considerada há tantos anos como certa, e outros, sem o devido conhecimento da língua, abraçarem a
causa, levantarem bandeiras, saírem divulgando na mídia, sem uma reflexão e análise
mais profunda dos mecanismos e da complexidade que envolvem a construção do nosso idioma e das mais variadas formas de dizer as mesmas coisas de formas diferentes. Luza Mai - em 16/02/2014
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