terça-feira, 2 de julho de 2013

LETRA CURSIVA OU LETRA DE IMPRENSA NA ALFABETIZAÇÃO?

     



Na “Proposta de fazer do TEXTO o centro do ensino da Língua Materna”, não há como ignorar que se vai trabalhar com textos que circulam no meio em que o aluno está inserido, e que 99% desses textos são escritos em letra de forma ou de imprensa, que precisam ter um significado para ele; COM CERTEZA, não será no início da alfabetização que iremos procurar textos escritos em cursiva, para explorar com o aluno, sob pena de o aluno ficar confuso e retardar o processo.

        Ensinar a ler e escrever com letra cursiva no início da alfabetização é como ensinar o aluno a “nadar no deserto”, pois não terá contato com essa letra, a não ser se o pai ou a mãe escreverem assim. E mais, a tecnologia avança, novas formas de se comunicar tomam conta da escola e nós continuamos apegados a coisas que não têm relevância no processo de alfabetização. A forma da letra, se é mais bonita, se se escreve mais rápido...temos sim, que ensinar a escrita legível e nada mais legível do que a letra de forma...depois teremos tempo para treinar outros tipos de letras...
        Daqui a não muito tempo, 50 anos talvez, a nossa caligrafia terá pouquíssimo uso nessa era digital. E Ninguém, mas ninguém mesmo, por mais “apaixonado que seja pelas “letras cursiva ou de forma” impedirá isso.
        Foi a partir dessas ideias que senti necessidade de pesquisar a respeito sobre o que pensam alguns teóricos, professores, pedagogos sobre esse tema e trago este material aqui para reflexão.

Por Luza Mai

Graduada em Letras

com Especialização em Mídias na Educação


             O uso da letra de forma X letra cursiva na alfabetização – uma dualidade questionável

Antes de iniciarmos nossa discussão acerca do assunto em pauta, relembremos das ideias propostas por Jean Piaget, as quais se baseiam no método da investigação, ou seja, o aluno é levado a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com a realidade e com os colegas. Possivelmente, tais elucidações tendem a conduzir-nos ao ponto central de nossa discussão: entre a letra cursiva e a de forma... qual delas tem maior eficácia no processo de alfabetização?

Nesse processo de interação com a realidade a qual se encontra inserido, o aluno tende a se identificar profundamente com aquilo que presencia. Dessa forma, em se tratando da letra de forma, há que se constatar sua recorrência nas mais diversas circunstâncias que norteiam o cotidiano, como por exemplo: nas teclas do computador, nos outdoors, nos livros, na televisão, jornais, rótulos, embalagens, nas placas de trânsito, entre outras. Assim sendo, o emprego da letra cursiva se restringe somente ao ambiente escolar. Mediante tal ocorrência, eis que surge uma indagação de caráter relevante: essa familiaridade com a letra de forma não facilita uma melhor apreensão do conhecimento?

       Procurando dar uma maior ênfase ao nosso propósito, torna-se interessante elencarmos algumas características inerentes ao emprego de ambas as letras, uma vez manifestadas por pontos que divergem entre si. Assim, vejamo-los:

LETRA DE FORMA (também conhecida como bastão) X     LETRA CURSIVA

Disseminada nas escolas construtivistas                                     Escola tradicional

- Torna-se menos dispendiosa, pois exige um esforço menor do aluno. Assim, ele domina melhor os movimentos da escrita.

- Ao ter que desenhá-la, o aluno tende a encontrar mais dificuldades em dominar tais movimentos.

- Em virtude da convivência com tal modalidade, a criança não sente dificuldades em reconhecer o alfabeto.

- Como o contrário ocorre, sendo sua recorrência restrita somente ao espaço escolar, o reconhecimento não se dá de forma espontânea.

       Mesmo em face desses pressupostos, somados ao fato de que o uso dos famosos cadernos de caligrafia está cada vez menos integrando as práticas educativas, vale dizer que ainda não há um consenso entre educadores, pais e especialistas, tampouco uma literatura que reforce essa questão. O que se pode constatar são as divergências existentes entre eles, assim como nos revelam as palavras de Magda Soares, professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG:

      "No momento em que a criança está descobrindo as letras e suas correspondências com fonemas, é importante que cada letra mantenha sua individualidade, o que não acontece com a escrita ‘emendada’ que é a cursiva; daí o uso exclusivo da letra de imprensa, cujos traços são mais fáceis para a criança grafar, na fase em que ainda está desenvolvendo suas habilidades motoras".

       Bem como o discurso proferido por Elvira de Souza Lima, a qual demonstra não estar tão empenhada na discussão, mas mesmo assim revela: "Os processos de desenvolvimento na infância criam a possibilidade da escrita cursiva".
      E acrescenta Magda Soares, a qual atribui o empego da letra cursiva à ansiedade demonstrada pelas crianças em começar a escrever – fato que as conduz a fazer uso de tal modalidade. E revela:

"Penso que isso se deve ao fato de que veem os adultos escrevendo com letra cursiva, nos usos quotidianos, e não com letras de imprensa".

Nesse sentido, manifestadas todas as divergentes opiniões, cabe ainda ressaltar que mesmo que o processo de alfabetização venha recebendo cada vez mais o apoio da neurociência, estudos ainda são insuficientes no intuito de se declarar o desuso definitivo da letra cursiva ou sua efetiva ascensão. Enquanto alguns neurocientistas declaram-se adeptos dessa modalidade, em virtude de exigir maior esforço de integração entre as áreas simbólicas e motoras do cérebro, auxiliando a criança a adquirir fluência, há uma outra corrente de pesquisadores, os quais afirmam que se a cursiva desaparecer, as habilidades cognitivas serão substituídas por novas, sem nenhum fator consequente.

Portanto, não nos resta outra alternativa senão assistirmos à evolução dos fatos, e aguardarmos os possíveis resultados, que porventura ocorrerão.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/o-uso-letra-forma-x-letra-cursiva-na-alfabetizacao-uma.htm


LETRA CURSIVA OU LETRA DE IMPRENSA?

(por Rosa Maria Antunes de Barros)

       A letra de imprensa tem sido alvo de discussão em praticamente todos os grupos de formação de professores quando o assunto é alfabetização. Por que será que esse assunto preocupa tanto? Por que se considera tão importante ensinar a letra cursiva às crianças que estão aprendendo a ler e escrever?

      Muitas são as justificativas. Os professores dizem que os pais querem que seus filhos aprendam a escrever com letra cursiva. Os professores foram alfabetizados com essa letra. Há ainda a afirmação de que empresas selecionam considerando a caligrafia.

      Veremos que essas razões são todas facilmente contornáveis. Para a criança que ainda não se alfabetizou, ler em letra de forma é bem mais produtivo, já que ela pode trabalhar com as letras em separado, o que lhe permite refletir sobre quais e quantas letras tem uma palavra. A letra de forma, ademais, está muito mais presente na vida cotidiana do que a letra cursiva, o que possibilita que a criança estabeleça relações interessantes entre o que aprende na escola e o que vê no outdoor da rua, na revista, no jornal, na televisão...
Teme-se que as crianças se acostumem com a letra de forma e não queiram passar para a cursiva. Isso não é verdade. Na maior parte dos casos, assim que as crianças conquistam a escrita alfabética, por iniciativa própria, passam a querer escrever com a letra cursiva.

QUE TIPO DE LETRA DEVE SER USADO NA ALFABETIZAÇÃO

(por TELMA WEISZ)

     A escolha das letras devem se relacionar com as necessidades de aprendizagem das crianças. A letra de forma maiúscula é a mais adequada para ser usada no início da alfabetização, enquanto o aluno estiver sistematizando a aquisição da escrita. Uma criança que ainda não compreendeu a natureza do sistema alfabético, ao trabalhar com letra cursiva, não consegue, normalmente, saber onde acaba uma letra e começa a outra dentro da palavra, já que estão todas interligadas. A letra de forma é menos exigente, pois compõe palavras com partes completamente identificáveis.

      Por isso, deve estar claro para o professor que uma criança, no início do processo de alfabetização, precisa enfrentar e resolver certas questões sobre a escrita; outras ela só será capaz de enfrentar mais à frente, quando já estiver relativamente alfabetizada.
      A letra cursiva deve ser introduzida quando as crianças já compreendem como funciona o sistema alfabético e estão alfabetizadas. A letra cursiva é útil nesse momento quando os alunos deslancham como escribas, porque permite escrever mais rápido e dá uma estabilidade maior à forma ortográfica e é insubstituível para a aprendizagem de ortografia e do uso de maiúsculas e minúsculas.