domingo, 16 de fevereiro de 2014

RISCO DE VIDA OU RISCO DE MORTE? - "EIS A QUESTÃO!"

     

        Tenho ouvido muito ultimamente  a expressão "risco de morte". Confesso que não soa bem aos meus ouvidos a substituição da antiga expressão "risco de vida".  Sei, perfeitamente, que a língua é dinâmica e está sempre em  constante renovação e evolução; que novos vocábulos vão surgindo, antigos desaparecem, mas não é este o caso.  Aqui se trata de, "arbitrariamente", sem uma análise linguística mais profunda,  determinar que o uso da expressão  "risco de vida" está gramaticalmente incorreto  de acordo com a norma culta padrão da língua.                                    
      NUNCA, em nenhum momento,  questionei o uso da expressão RISCO DE VIDA, por simplesmente compreender  que se trata de um risco "para a vida", ou a vida "está em risco". E, também, quando nos remetemos àquilo que está implícito, ou nas entrelinhas do texto,  fica "nítida”  a supressão dos elementos "perder a": risco de (perder a) vida.                                      
      E, para aqueles que não se contentam com o enfoque da interpretação, dado acima,  e gostariam de uma explicação bem GRAMATICAL, e dentro do padrão formal e culto da Língua Portuguesa, após uma análise bem detalhada da referida expressão, cheguei as minhas conclusões.
         Descrevo abaixo o caminho do meu raciocínio e convido a todos que tenham algo a dizer ou a acrescentar ,  que se posicionem de alguma forma a contribuir para o esclarecimento dos motivos que levam a esse “modismo” do “risco de morte”.

1º) RISCO = Algo em que o resultado é incerto.
Quando se faz alguma coisa com um fim esperado, sabendo que há a possibilidade de aquele fim não ser atingido.

- Sinônimos:  incerteza, aventura,   acaso,  cartada,   façanha,  lance,   perigo; (dicionário informal online)

2º) Substituindo a palavra RISCO pelo sinônimo “incerteza”, teremos:
             
·        O risco de vida = A incerteza da vida (é incerto se algo irá continuar vivendo ou não).

3º) Vamos fazer a análise sintática das duas expressões (risco de vida e risco de morte) dentro de orações, para perceber as relações entre os termos das mesmas,  pelas normas de construção dessas expressões, o que elas querem realmente dizer. Analisaremos somente a parte do sujeito.

a)     O risco de vida é grande naquele lugar abandonado.
·        Sujeito simples – o risco de vida
·        Núcleo do sujeito – risco (“risco” de quê? – substantivo  abstrato e de sentido incompleto; neste caso, portanto, pede complemento)
·         Complemento Nominal de vida  (o complemento nominal é diferente do adjunto adnominal.  Ele é passivo. No caso,  podemos dizer que “a vida corre o risco de acabar”- aqui é um “risco para a vida”...a vida recebe a ação do risco. 

b)    O risco de morte é grande naquele lugar abandonado.
·        Sujeito simples o risco de morte
·        Núcleo do sujeito – risco (“risco” de quê? – substantivo abstrato. Note que aqui estou me referindo ao ‘tipo” de risco: o risco de morrer. A ideia é de limitação do campo dos riscos... A expressão  “de morte”, não pode ser considerada aqui, complemento nominal, pois o sentido da frase ficaria assim: “a morte corre o risco de acabar.”
·        Adjunto adnominal do sujeito – de morte (o adjunto adnominal é aquele que anda junto, acompanha, determina uma categoria, uma classe).

         Concluo então, que ambas estão dentro dos padrões da norma culta, porém devem ser entendidas de forma diferente.
          O que não pode acontecer é que, de repente, um grupo de pessoas resolve criticar uma forma de expressão, utilizada e considerada há tantos anos como certa, e outros, sem  o devido conhecimento da língua, abraçarem a causa, levantarem bandeiras, saírem divulgando na mídia, sem uma reflexão e análise mais profunda dos mecanismos e da complexidade que envolvem a construção do nosso idioma e das mais variadas formas de dizer as mesmas coisas de formas diferentes.                                                                                                                                                                                     Luza Mai - em 16/02/2014                                                                                                           

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